Ceuta 1415 - 5. Um rei determinado e experiente*
por João Ferreira do Amaral, em 14.08.15
(*) Comemoram-se hoje precisamente 630 anos da grande vitória de D. João I em Aljubarrota.
Em Algeciras era baixo o moral das tropas. Sentia-se o amargo sabor do
provável regresso ao Reino sem combater e sem os despojos, depois de
tanto investimento feito. Os homens murmuravam entre si apontando o dedo
à pouco cuidada preparação. Alguns punham mesmo em dúvida a missão
exploratória, supostamente realizada pelo Prior do Hospital. Este fora
enviado por El-Rei uns tempos antes com o propósito de estudar o assalto
à cidade. Neste ambiente, o infante D. Henrique partia uma vez mais em
busca de D. Pedro e das naus dispersas. Encontrou-as ao fim de algum
tempo mas, em resultado de uma colisão, uma delas apresentava um rombo
que a impedia de içar as velas sem que a força do vento lhe abrisse o
casco ao meio. Remediou-se o dano com recurso a uns cabos e a nau pode
seguir a reboque até Algeciras, conjuntamente com todas as outras.
El-Rei quis então ter conselho acerca da melhor decisão a tomar. Os
primeiros a falar foram os seus filhos. Os três infantes e o conde de
Barcelos, secundados por outros, mantinham intacta a vontade de ir sobre
Ceuta e concretizar aquilo que antes não tinham conseguido: Entrar na
cidade e conquista-la aos mouros. Um outro grupo propunha que se optasse
alternativamente por tomar Gibraltar, mesmo ali ao lado e muito mais
fácil de submeter. Finalmente, outros havia que defendiam o regresso
imediato ao Reino, considerando o já longo tempo de ausência e os muitos
obstáculos surgidos. Ouvido o conselho, D. João I, que nunca hesitara
mas pretendia assim conhecer o ânimo dos seus homens, afirmou que estava
ali com o firme objectivo de conquistar Ceuta e não encontrava motivos
para desistir. No dia 19, ordenou que a frota se deslocasse até à Ponta
do Carneiro, na extremidade poente da baía de Algeciras e mandou os
capitães irem ter consigo a terra para ali discutirem a táctica de
desembarque e de assalto à cidade.
Propunham os capitães que se desembarcasse do lado do sertão, atacando
Ceuta de poente para nascente e encurralando o inimigo no promontório de
Almina. Mas a experiência militar de D. João I fê-lo optar pelo caminho
exactamente oposto: Desembarcar na praia a nascente e empurrar o
inimigo para o interior. Deste modo não haveria preocupação com a
rectaguarda e os infiéis teriam sempre a opção de fugir em lugar de
combater. O plano era o seguinte: O grosso da frota comandada por D.
João I estacionava em frente da cidade, para lá atraindo o maior número
possível de mouros. Enquanto isso e da forma mais discreta possível,
alguns homens (1) desembarcavam na praia do lado de Almina para onde,
depois de controlada a porta de entrada na muralha, todos os outros
avançariam em desembarque ordenado (2). Para comandar o grupo da frente
escolheu El-Rei o seu filho D. Henrique, recordando-lhe o pedido que o
próprio Infante lhe fizera, ainda muito antes da partida, de vir a estar
entre os primeiros a pisar terra e a combater. Com o ânimo próprio de
um jovem de 21 anos nascido para ser guerreiro, D. Henrique não cabia em
si de satisfeito.
Partiram no dia seguinte rumo à baía de Ceuta onde chegaram já de noite.
Desta vez as naus navegavam protegidas pelos outros navios que as
impediam de se dispersarem. Surpreendidos por verem os portugueses
regressar, os mouros acenderam todas as lanternas que tinham em suas
casas, procurando criar a ilusão de serem muitos mais do que na
realidade eram. Estava angustiado Salah ben Salah, pois bem sabia que
diante dos muros da cidade estava um grande príncipe da cristandade, um
guerreiro invicto que, com estes mesmos homens, tinha conseguido
impor-se ao poderoso reino de Castela. O que faria agora o mouro sem
poder sequer contar com a ajuda atempada de Fez e das cidades vizinhas?
Na frota, também à luz das lanternas, os soldados cuidavam dos últimos
preparativos para o grande combate do dia seguinte: Espadas, escudos,
bacinetes, cotas de malha, armaduras, tudo teria de estar em perfeitas
condições. Difícil foi pregar olho durante a noite com a ansiedade do
que os esperava na alvorada. Muitos aproveitavam a falta de sono para
implorar a protecção do Altíssimo, a cujo serviço iriam agora dedicar
tudo o que tinham. Chegava finalmente a aurora do grande dia.
Zurara menciona os nomes de cem capitães da expedição. Aqui ficam os de maior importância:
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