quarta-feira, 3 de setembro de 2014






ACTAS DAS SESSÕES DA CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA (1886-1926). Embora Portugal e, consequentemente, a cidade de Lisboa, não tenham sido palco de guerra, não puderam eximir-se às consequências diretas e indiretas do conflito, cujo impacto político, social e económico assumiu proporções globais. Momento de exceção na cena internacional, o período da guerra foi também conturbado no panorama político português, com os governos de Pimenta de Castro (de janeiro a maio de 1915) e de Sidónio Pais (de dezembro de 1917 a dezembro de 1918) a marcarem o curso normal do recém-proclamado regime republicano. A importância estratégica da capital na prossecução dos desígnios políticos do país fez com que as mudanças de governo se espelhassem na sucessão dos executivos municipais, chegando, em extremo, à demissão dos poderes municipais e nomeação de Comissões Administrativas de iniciativa governamental, como aconteceu em 22 de abril de 1915 ou em 10 de janeiro de 1918.

As Actas das Sessões da Câmara Municipal de Lisboa, editadas desde 1886, passavam a escrito os debates internos da vereação, tornando-se fontes imprescindíveis para conhecer o quotidiano da gestão da cidade, tanto mais complexo quanto a autarquia, ao tempo da Primeira Guerra Mundial, assumia responsabilidades decisivas em questões como a regulação da produção e venda de bens de primeira necessidade – como o pão, a carne ou o leite –, ou a assistência social. 








col. Hemeroteca Municipal de Lishttp://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/Atlantida/Indices/N1_4/N1_4_master/JPG/N1_0001_branca_t0.jpgboa
ATLÂNTIDA: mensário artístico, literário e social para Portugal e Brasil (Lisboa/Rio de Janeiro, 1915-1920). Não tendo natureza noticiosa, Atlântida  refletiu a Grande Guerra através da caução intelectual, doutrinária e literária à participação luso-brasileira no conflito, causa que denodadamente defendeu. Logo no “Prospeto” que abria a publicação se dava como justificação para um mensário transatlântico o facto de que «as circunstâncias especialíssimas criadas pela guerra europeia, determinaram um irresistível movimento de solidariedade entre aqueles países e aqueles povos que vivem dum mesmo ideal, que se alimentam da mesma tradição ou que descendem do mesmo tronco originário». De facto, nas suas páginas tanto se saudou a entrada de Portugal na guerra (v. g., suplemento ao n.º 5, e “Ao Exército Português”, n.º 16), como se apoiou a iniciativa de Olavo Bilac de promover o serviço militar obrigatório no Brasil (“A Campanha patriótica de Olavo Bilac”, n.º 12, e “O Movimento patrótico”, n.º 14), aplaudiu-se a rutura diplomática entre este país e a Alemanha (n.º 18) e celebrou-se a sua participação no conflito (n.º 25).

Em termos estritamente nacionais, Atlântidamanteve três eixos editoriais principais em relação à guerra: — 1) a justificação orgânica, moral, alicerçada em bases anímicas de alcance épico para a participação portuguesa no teatro bélico (v. artigos de Jaime Cortesão, n.º 7; Lopes de Oliveira, n.º 8; Leonardo Coimbra, n.º 18; Henrique Lopes de Mendonça, n.º 20; Emílio Costa, n.º 22; José de Campos Pereira e Eduardo de Noronha, n.º 23; Teófilo Braga, n.º 25; 
J. A. de Bianchi, n.º 31; Guerra Junqueiro, n.º 33-34; Graça Aranha, n.º 37; João do Rio, n.º 40); — 2) em reforço do eixo anterior, a propaganda em torno do sucesso da participação portuguesa e do prestígio internacional por ela obtido, assente nas várias entrevistas feitas por João de Barros a responsáveis político-militares portugueses (Augusto Soares, n.º 6, n.º 11 e n.º 17; Bernardino Machado, n.º 10 e n.º 25; Norton de Matos, n.º 10 e n.º 25; Afonso Costa, n.º 11; Leote do Rego, n.º 25) e, terminado o conflito, nos elogios de responsáveis aliados ao esforço português (n.º 33-34); — 3) a publicação de testemunhos de quem estava em zonas de combate (Paulo Osório, n.º 10 e n.º 16; Reinaldo dos Santos, n.º 15; Augusto Casimiro, n.º 18, n.º 22,n.º 33-34, n.º 42-43 e n.º 46-47; Castro Caldas, n.º 33-34; Jaime Cortesão, n.º 37). 

Merece também realce a publicação de artigos prospectivos sobre as possibilidades de vitória de um ou outro campo em conflito
, com base na análise logística e financeira dos contendores (v. artigos de José de Campos Pereira, n.º 5; José de Macedo e X., n.º 8; F. Penteado, n.º 12), e, terminada a guerra, sobre as vias de evolução da situação mundial dela decorrente (artigos de Rodrigo Octávio, n.º 37; Graça Aranha, Francesco Bianco e Domingos Meneses de Jesus, n.º 38; Emílio Costa, n.º 39 e n.º 44-45; José de Macedo, n.º 42-43). O n.º 21 teve um suplemento de quatro páginas inteiramente dedicado à Cruzada das Mulheres Portuguesas e ao hospital por esta criado, e o n.º 25 foi um número especial, 
«organizado num intuito de propaganda patriótica». Para saber mais sobre esta publicação, ler, na íntegra, a respetiva ficha histórica.
Pedro Teixeira Mesquita | Lisboa, HML, julho de 2014

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